A Quaresma é um precioso e rico tempo que nos conduz ao centro de nossa espiritualidade cristã: a Páscoa de Cristo, a Sua vitória! A vitória da vida sobre a morte! 

Em muitos lugares, prega-se muito a chamada “prosperidade”. Em tudo: prosperidade financeira e espiritual; sucesso profissional e financeiro sem sacrifícios e trabalho e vida espiritual sem renúncia, sem sofrimento. Isso tem frustrado muita gente, pois não existe prosperidade financeira somente com a força da sua mente, nem vitória espiritual sem luta contra o pecado, sem provações, oração, jejum e penitência.  

Por isso, Jesus, antes de iniciar seu ministério público, foi levado para o deserto para se preparar para tudo o que ele iria enfrentar. Não foi somente durante aqueles quarenta dias que os evangelhos nos contam, mas durante toda a sua vida ele continuou o hábito de se preparar e se manter preparado para sempre vencer. Ele sempre se retirava para orar (Lc 5,16) e sempre nos alertava para nos mantermos em vigilância (Mt 26,41). 

No deserto, com o jejum e oração, Jesus venceu as necessidades humanas físicas: “Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus”. Venceu a tentação do poder pelo poder, quando o demônio lhe ofereceu domínio sobre os reinos (O pai da mentira, oferece o que não lhe pertence) em troca de adorá-lo, com a resposta: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e somente a ele servirás”. Venceu a tentação da presunção (orgulho, arrogância, vaidade), quando o demônio lhe propõe que prove ser quem é e se jogue para que os anjos de Deus o segurem, com a ordem: “Não tentarás o Senhor teu Deus”. Assim sendo, com a força da vitória sobre o mal e cheio do Espírito Santo, Jesus volta para a Galileia para ensinar nas sinagogas e é aclamado por todo o povo (Lc 4,14-15).

A Quaresma nos propõe uma mudança de vida em três dimensões:

1.    Conversão: “Arrependam-se de seus pecados e creiam no evangelho” (Mc 1,15). Este é o tempo oportuno para um longo retiro espiritual voltado para a conversão pessoal, com intensificação do tempo de oração, jejum, penitência e confissão (se a orientação diocesana em tempo de pandemia permitir a confissão). Há sempre o que converter em sua vida, mesmo que você já procure viver uma vida diária na busca da santidade. Todos nós ainda estamos a caminho e vamos nos convertendo e nos superando todos os dias e, de vitória em vitória, vamos “morrendo” para o homem velho e ressuscitando para o homem novo. Nossa vida aqui na terra é um constante exercício de sexta-feira santa e domingo de Páscoa, de morte e ressurreição.

2.    Partilha: Viver a quaresma em célula. São João Paulo II assim nos fala: “As vossas comunidades irão convidar-vos a participar em campanhas de quaresma. Irão, por certo, ajudar-vos também a orientar o exercício do vosso espírito de penitência, compartilhando aquilo que possuís com aqueles que têm menos ou nada têm”. As palavras do saudoso Papa e santo se confundem perfeitamente com o modelo de vida dos primeiros cristãos: “Entre eles não havia nenhum necessitado” (At 4,34) e com uma das propostas de vida para as nossas células que têm sua fonte nessa passagem de Atos dos Apóstolos. Uma das ações quaresmais para as nossas células poderia ser fazer uma “varredura” junto às células, levantando todas as suas necessidades e atendê-las (pelo menos as básicas), com a ajuda dos líderes e coordenadores.

3.    Uma sociedade mais justa. Podemos nos unir ao profeta Isaías e com a Igreja que clama aos céus por justiça social (Is 58,5-8): “O jejum que me agrada porventura consiste em um homem mortificar-se por um dia? Curvar a cabeça como um junco? Deitar sobre o saco e a cinza? Podeis chamar isto de jejum, um dia agradável ao Senhor? Sabeis qual jejum que aprecio? Diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas, desatar as cordas do jugo, mandar embora os oprimidos, e quebrar toda espécie de jugo. É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante. Então tua luz surgirá como a aurora, e tuas feridas não tardarão a cicatrizar-se; tua justiça caminhará diante de ti, e a glória do Senhor seguirá a tua retaguarda”. Em nosso dia a dia, no trabalho, com a família, em nosso bairro e em toda oportunidade, buscar ser justo e fraterno, sem ignorar as dores e dificuldades dos que estão ao nosso lado.

Em todas as dimensões de nossas vidas, para chegarmos à vitória (Páscoa) primeiro passamos pelo sacrifício, pelo “cadinho da provação”, como nos ensina o livro do Eclesiástico (2,1-13). A quaresma é um tempo de preparação para uma vitória pessoal, comunitária (na célula) e social (uma sociedade mais justa e fraterna). Nesta ótica e com este foco, veremos como realmente uma “quaresma transformadora” pode nos levar a uma conversão mais profunda em todas as dimensões de nossa vida. 

PERGUNTAS:
1) Como você pode converter-se pessoal, comunitária e socialmente? 
2) Como você entende uma morte que leva à vida?

4º PASSO = EVANGELIZAÇÃO | Nesta etapa da célula é muito importante recordar que cada membro é um discípulo e missionário, conforme a nossa “visão celular” e que devemos ao longo da semana evangelizar nas mais diversas formas que existe para se evangelizar, especialmente através do testemunho e com os seus Oikos.

5º PASSO = ENTREGA (Oração) | 10 minutos (orar pelas necessidades da Igreja, da célula, de seus membros e de pedidos apresentados na hora da oração). 

MEDITAÇÃO: O mundo em que vivemos diariamente nos oferece inúmeras oportunidades opostas às propostas do evangelho de Jesus e de sua Igreja. A vigilância é um estado permanente de quaresma, que nos leva a caminhar uma vida espiritual mais coerente e frutífera.

VIVÊNCIA: Proponha-se nesta quaresma a trabalhar e vencer ao menos um item de cada dimensão de sua vida tratada aqui neste roteiro.